30 de novembro de 2010

Poesia

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira. 
(Carlos Drummond de Andrade)

5 de novembro de 2010

Consumo e Liberdade


  Há muito se discute a importância de adotarmos atitudes que ajudem na questão da preservação das condições ambientais e para a manutenção da vida. A questão do “consumo consciente” aparece como um dos assuntos que se destacam nas propostas para se pensar em políticas e atividades voltadas ao cuidado ambiental, ou seja, que proporcionem menores impactos sobre o mesmo pelas atividades humanas. O fato é que o consumo está diretamente ligado à situação econômica das pessoas, do momento em que o consumo é impulsionado pelo poder de compra dos indivíduos.
  O consumo consciente tem forte relação com a liberdade das pessoas, no sentido de suas possibilidades em adquirir aquilo que necessitam ou desejam. Podemos pensar que quanto maior o poder aquisitivo das pessoas, maior será a possibilidade das mesmas em poder optar por uma forma de consumo que seja (um pouco mais) ecologicamente correta. As classes de menor poder aquisitivo se desdobram para adquirir seus produtos, de maneira que isso onere o menos possível em seu orçamento. Assim, ficam em uma zona limite de consumo, com aquilo que podem de fato adquirir, mesmo que aquilo que comprem não seja mais favorável a menores impactos sobre o ambiente. Para ilustrar podemos dar um exemplo (de maneira bastante genérica) com dois produtos iguais em suas utilidades: um contido em uma embalagem produzida com materiais biodegradáveis, e que foi fabricado por tecnologia mais sofisticada, para contribuir com a preservação ambiental e de seus recursos; outro em embalagem de material que ficará no ambiente por muitos anos, podendo gerar algum tipo de dano ao ambiente e a vida, caso não seja destinado à reciclagem. O primeiro produto se tiver origem em uma linha de produção onde foi necessário um alto investimento para que atendesse aos apelos ambientais, certamente terá um valor superior ao segundo, e será consumido em sua grande parte por pessoas mais abastadas, que não são a maioria em muitos países, como por exemplo no Brasil. 
  No entanto, isso não se restringe ao consumidor apenas, como vimos no exemplo acima está relacionado também com as empresas que são responsáveis por colocarem seus produtos no mercado. Se uma empresa não pode contar com uma linha de produção que preze pelo ambiente, os consumidores de seus produtos entram nessa cadeia. Muitas das vezes, e principalmente em sistemas capitalistas de garantias econômicas, para se trabalhar com matérias-primas menos agressivas ao ambiente é preciso contar com tecnologias mais avançadas no processo de produção, e isso será repassado ao consumidor final em massa, a fim de que a atividade se torne rentável o bastante para as empresas, em especial em países onde não existam políticas econômicas voltadas a garantir o funcionamento das cadeias produtivas (desde os produtores de matérias-primas, aos aglomerados industriais). Desta maneira, formam-se segmentos sociais, uns com mais, outros com menos possibilidades de contribuir, mesmo que isso seja a vontade das pessoas, com iniciativas de preservação/conservação ambiental. Isso vai até além da questão das classes sociais. Atende também ao fato de as pessoas, por mais que tenham condições de optar por um consumo menos destrutivo, prezarem primeiramente por sua estabilidade financeira, e optarem por consumir produtos com menos valor agregado, já que estão disponíveis. 
  As formas de consumo, com toda certeza devem ser repensadas e cada vez mais discutidas nos mais variados setores sociais, mas é fundamental que haja mudanças também nas formas de produção, e principalmente nas políticas responsáveis por regulamentarem e possibilitarem mercados que funcionem de acordo com as necessidades de preservação do meio ambiente, já que nossas relações com o mesmo estão diretamente ligadas à questão de sua manutenção e uso daquilo que nos fornece e possibilita a vida.